Por entre fotos, nomes e os olhos cheios de cores, me lembrei de Caetano Veloso. Tudo é tão desigual, pensei. Mas logo senti Gilberto Gil e percebi que a novidade era o máximo. É nesse sentido que a criatividade de Hélio Oiticica, sem querer calar, remonta seu acervo mostrando que é possível ser contra, sendo a favor. A memória do artista carioca, sempre associada ao tropicalismo, emite acordes dissonantes em escritos, maquetes, plantas, fotografias... . Todas elas sem lenço, sem documento, mas superbacanas.
A visão carnavalesca de Hélio Oiticica, sem coerência ou talvez destino estético, é vibrante. Formas recortadas e coladas, objetos coloridos, placas suspensas no ar. Tudo se perde pela indiferença, pelo avesso, pela vertigem eclética das formas. A contracultura de Oiticica, tenta em todo o tempo, aproximar seu cantar vagabundo, daqueles que velam pela alegria sem nada no bolso ou nas mãos. Nunca Glauber foi tão Caetano e nem Gil tão Bethânia. Ou, talvez, nunca Norma Benguel tenha sido tão Brigite Bardot.
O jeito mutante, marginal, de fazer antiarte no Parangolé, utiliza valores plásticos visuais que interagem com o público. É na conversa fiada, que o artista faz de seu Hermetismo Pascoal uma beleza pura, fractal, livre. A expressão coletiva de sua arte anarquiza, põe em órbita,... vira palhoça!
A busca experimental de Hélio Oiticica em Penetrável, sintetiza uma disposição irregular, confusa, mas de grande exercício intelectual. O labirinto, metáfora do conhecimento, torna-se inspiração para criar e investigar, pelo desafio a imaginação e ao pensamento universal. Guiado por uma estética alegórica, o artista nos orienta pela possibilidade de transformar a visão e os conceitos na sua estrutura mais íntima e fundamental.
O improviso delirante, mas profético de Oiticica, anuncia a redenção do olhar através de uma perspectiva provocadora, vanguardista, que não se alinha ao pré-estabelecido. Talvez seja essa a principal mensagem da exposição: “experimentar o experimental”. (do poeta Waly Salomão)
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