terça-feira, julho 31, 2007

Para sempre Antonioni

Michelangelo Antonioni me remete “A Noite”; talvez porque este filme traduza (para mim!) com sensatez e lirismo uma modernidade silenciada pelo “progresso”, além de uma burguesia urbana moralmente falida e incomunicável. O Marxismo “duvidoso” do Cineasta italiano não me preocupa; como, também, não me preocupa o “Socialismo Cristão” de Rosselini. Acredito que a estética fria de Antonioni influenciou diretamente alguns diretores do Cinema Novo como Luiz Sérgio Person (antes de se render a pornochanchada) e Paulo César Sarraceni. “São Paulo S/A” e “O Desafio” são dois filmes que me permitem, respectivamente, criar uma espécie de “intertextualidade” discursiva. A questão do universo psicológico de classe é muito evidente e circular nas obras citadas. Waler Hugo Khouri, cineasta paulista, embora metafísico demais, se aproximou, também, de Antonioni em alguns de seus filmes. “Noite Vazia” seria um deles.

O Neo-Realismo de Antonioni marcou, junto com Visconti, De Sica, Ettore Escola e Rosselini (este seria o maestro!), um painel histórico e estético, cujo realismo social respondeu criticamente ao Fascismo, e de como a Itália se apresentava no pós-guerra. Estou seguro de que Michelangelo Antonioni continuará, mesmo depois de sua morte, falando através de sua arte e, por muito tempo, para as gerações futuras.

segunda-feira, julho 30, 2007

Para sempre Bergman

Não estou de luto. Pelo contrário, estou realmente seguro de que, Ingmar Bergman, venceu a morte pela obra iluminada que realizou. Importante para ele foi e será a vida que atravessa o espelho para uma outra dimensão especular, imagética, pictórica, mas também dramática psicologicamente. O cineasta Sueco que percebeu no inconsciente social e familiar o registro ideal da natureza humana nos deixa hoje; da vida para a história.

domingo, julho 29, 2007

A Cultura Brasileira como signo do Caos

Tentarei já no resumo que escrevo, formatar algumas preocupações que necessitem de uma discussão clara e objetiva sobre o resultado trágico de nossa tentativa de assassinar a Cultura Brasileira* pelo desprezo, pela incompetência e pela falta de uma (!) política pública dirigida ao desenvolvimento cultural do país. Devo dizer, entretanto, que a Cultura Brasileira não está morta, ainda; felizmente, porque, talvez, “neste mundo de aparências, vai ficar na eternidade, com seus livros, com seus quadros, intacto, suspenso no ar!” (Manoel Bandeira); mas o que se resolve nas relações da superestrutura é o total descaso com a produção cientifica, artística e intelectual de maneira bem ampla. Ao que me consta, nem o Executivo e nem o Ministério da Cultura se entenderam na preocupação maior e elementar em desfazer o nó da mediocridade política e apresentar uma solução formal e definitiva para a Greve que atinge os mais diversos setores e meios de difusão cultural (falo da situação do Rio de Janeiro); o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), o Paço Imperial, o Museu Nacional de Belas Artes estão de luto; as faixas pretas que “vestem”, parcialmente, suas fachadas, traduzem a indignação dos trabalhadores, que já não admitem tanta indiferença e descaso. A greve é legítima porque é uma reivindicação de um grupo social (servidores federais) que está sendo usurpado de seus direitos. Ao mesmo tempo, a Sociedade Civil “organizada” e a “desorganizada” aplaudem os “nossos” atletas no Pan-americano. “Sociologia de Maracanã”, como bem disse o professor Francisco Carlos Teixeira num debate sobre o assunto. Evento cujo principal objetivo é a exploração comercial, a alienação da finalidade esportiva, o chauvinismo e o deslocamento das contradições históricas das três Américas. Contra o evento, tivemos, apenas, manifestações discretas, “abafadas” pela imprensa burguesa. Gostaria, inclusive, de refletir sobre minhas posições num outro artigo mais específico sobre este dilema; que é o da “Sociedade do Consenso”. Logo, deixo tal compromisso para depois.
A legitimidade da paralisia e da asfixia – a greve nos órgãos de fomento cultural de maneira geral – (neste caso!) já não surte mais o efeito prático e reanimador para a crise permanente em que vivemos. Tal afirmação se justifica, também, pela falta de participação política e de mobilização da Sociedade como um todo. Isto se verifica pela falta de discussão e de visibilidade sobre o assunto. Se a finalidade jornalística é, dentre outras coisas, a de promover um debate público e democrático sobre aquilo que é de interesse coletivo (trabalho com está lógica de forma proposital!), todas as reivindicações de classe e os movimentos sociais estarão condenados ao esquecimento; quando não forem criminalizados injustamente; porque, os grandes complexos – privados – de informação contribuem para uma certa estabilidade social, além da hegemonia política de grupos econômicos ligados ao mercado financeiro e a indústria. A cultura é tratada como objeto de consumação de massa no subtexto dos cadernos especializados, para uma elite pseudoculta e indiferente. O kitsch é a tendência, a redução arbitrária da cultura ao signo da obsolescência e do caos.
Mas a crise na estrutura é a crise na superestrutura. Existe uma relação especular traduzida na velha experiência paternalista do Estado brasileiro; a submissão popular alimentada pelo inconsciente místico das massas alienadas e uma burguesia que só consegue olhar para o próprio umbigo. Porque a crise na cultura, a crise na aviação civil – fruto de um conflito permanente e hegemônico entre a Infraero (que está subordinada ao Ministério da Defesa), o Comando da Aeronáutica e as empresas de transporte aéreo – a crise na educação, é a crise na superestrutura; ao mesmo tempo, as relações – que formam a estrutura social – econômica, ideológica e jurídico-político de produção estão comprometidas nesse jogo. Difícil falar só de um aspecto quando a engrenagem é extremamente complexa e múltipla. O Brasil está em crise; resultado de um modelo político e econômico já superado e que não traduz as expectativas de nossa miséria; que antes de ser cultural é moral. É preciso, imediatamente, tal como afirmou Carlos Drummond Andrade em seu poema Hino Nacional, “redescobrir o Brasil! O Brasil está dormindo, coitado. Precisamos colonizar o Brasil”.
*Conjunto de práticas e representações que se configuram como saber na Música, na Literatura, nas Artes, no Cinema, no Teatro, na Dança, etc... e, também, no que se refere a Etnografia e a Antropologia. O binômio "Cultura Brasileira" funciona como resultado "Antropofágico" (no sentido "Oswaldiano"); tal posição interpretativa é a que empresto ao termo no contexto do artigo.