O desenho relata a estruturação de nossa cultura como prostituída, eclipsada pelo grotesco1; pelo entusiasmo marginal e tropical que contaminam2 aqueles que aqui chegam3 trazendo uma pretensa identidade urbana, cosmopolita4, que se contrapõe com um Brasil “primitivo”, provinciano (atrasado); de culturas não tão diversificadas e nem heterogêneas5.
1 Estética dos personagens, inautenticidade cultural exagerada, influência mexicana;
2Folclore, expectativas sobre o novo, alimentadas pelo medo e pelo preconceito (referência ao filme Meninos do Brasil pelo Homer); reprodução ideológica dos valores simbólicos do filme a partir de uma concepção de intolerância;
3 Família norte-americana de classe média;
4 Idéia de modernização, modelo industrial urbano que é reproduzido nos meios de comunicação;
5Homogeneização, indistinção de classes, incoerência étnica pela ausência de personagens de negros ;
O episódio revela através da linguagem e do abuso, um Brasil metonímico, anárquico, exótico e sincrético6; simulado através de representações sob um código de modelos entre mitos eróticos7 e pela arrogância da autoridade constituída 8; o que compõe um cenário de total descontrole; ferindo inclusive a idéia de civilidade9.
6 Característica da cultura de massa em geral em jogar tudo no mesmo saco; processo imagético de características universais sem, no entanto, ignorar alguns sinais originários;
7 Erotização evidente dos Personagens nos programas infantis de televisão e no dia a dia;
8 Representada pelo policial corrupto;
9 Signo de interpretação cultural = civilização latina, falta de organização social, relações conturbadas; visão colonialista norte-americana sobre um País de cobras e macacos.
Uma visão pitoresca e ao mesmo tempo cinematográfica que se articula entre o Rio de Janeiro e Amazônia10; Uma estranha democracia onde ladrões, bêbados, prostitutas e policiais corruptos dividem o mesmo espaço com a miséria; personagens movidos pelo frenesi do carnaval, pela praia de Copacabana e pelo futebol11; pelo filantropismo vigarista e pela visão paternalista dos supostos “colonizadores” 12 .
10Refiro-me ao seqüestro; espécie de aventura tropical, espetacular; banalização da violência;
11O futebol, enquanto representação teatral mostrada com desempenho pelo funcionários do hotel – todos eles se comunicam através de uma espécie de mímica futebolística – nos revela como encenação imaginária de contato e mediação entre as classes sociais (Fala do Homer: “eu também sou brasileiro”); espécie de código universal;
E o carnaval pela possibilidade de simular a inversão dos quadros sociais como espetáculo sincrético; de colorir a miséria (observação vinculada ao termo carnavalização que traz como exemplo a visita à favela – Ex: ratos parecendo “balinhas” ; barracos pintados para não ofender os turistas, etc...);
12Refiro-me ao “Orfanato dos anjos imundos”; O adjetivo “imundo” pode ser traduzido como algo infectado, incompatível, obscuro, que só o menino Ronaldo conseguiu romper; não sob forma de hostilidade mas através da experiência humanizadora (hábitos sociais polidos) do contato com o “outro civilizado”; Identidade “colonizada”.
Tal visão carnavalesca; mostrada nesse caso por um “canal fechado” em nosso país, se coloca pelo código eletrônico para um público urbano, de classe média, como se a realidade ali exposta fosse distante, sem controle ou monstruosa sob a intenção de desvio; espécie de pedagogia da indiferença.
Segundo Marilena Chauí:
“a ideologia nesse caso se faz necessária à dominação e reafirmação de classe. Essa falsa representação, não fornece aos homens o conhecimento da sua estrutura social, mas justifica um sistema pelo que ele é, através de uma falsa consciência”. *
* O que é ideologia – editora brasiliense.
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